quinta-feira, 8 de março de 2012

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A Fuga

Juliana estava deitada na cama brincando com seu cachorrinho de pelúcia branco com laço azul no pescoço. Ela o amava tanto! A mãe surgiu e parou na porta. Viu os brinquedos coloridos no chão. Não acreditava no que via e não adiantava falar à Juliana para arrumar a bagunça. Ela não queria: chorava e fazia birra.
A última moda de Juliana era pedir aos pais para que a matriculassem na escola. Ela já se achava crescida, queria conhecer outras crianças. A mãe não queria, achava que a menina ainda era muito pequena. Ela então pedia ao pai que, por sua vez, temia que algo pudesse acontecer à sua princesinha. Mas Juliana era incansável. Pediu, pediu e pediu. E, lógico, como era filha única: conseguiu.
A mãe, muito prendada, bordou o uniforme, a toalhinha e um lencinho para a filha levar à escola. O pai tinha uma oficina mecânica no fundo do quintal da casa e se dispôs a levar e buscar a filha todos os dias. Ele tinha um antigo monza preto muito bem conservado. Juliana estava feliz e orgulhosa por contar com o apoio dos pais.
No primeiro dia conheceu a professora: a tia Maria. Ela recebeu um bonito crachá amarelo, escrito com letras de forma, onde podia-se ler: Juliana Pontieri. A sala de aula era bonita. Havia desenhos de bichinhos pintados na parede e um varalzinho com prendedores coloridos onde eram expostas as atividades dos alunos. As outras crianças eram todas mais ou menos de seu tamanho e muito amistosas. Nesse dia, Juliana pintou um desenho lindo: o pai, a mãe e ela de mãos dadas, tendo ao fundo um arco-íris. Tomou lanche no pátio e brincou no balanço.
No fim do dia Juliana foi pra fila junto às outras crianças. Ao longe avistou o carro do pai. Despediu-se da professora com um beijo e correu em direção a ele, que a acolheu de braços abertos.Ela não cabia em si de tanta felicidade. Contou ao pai todas as suas aventuras. Em casa, narrou novamente tudo o que havia acontecido naquele dia. Exausta, dormiu como um anjinho.
No dia seguinte Juliana acordou agitada. Vestiu-se e colocou seu crachá. Não via a hora de chegar à escola para descobrir quais atividades faria. De dentro do carro, Juliana observava as ruas, as casas, as árvores e as pessoas. A escola não ficava tão longe de sua casa. O percurso era de apenas cinco minutos de carro. Ao sair Juliana abraçou o pai e correu para a fila.
Tia Maria havia programado uma atividade com massa de modelar. Juliana fez cobrinhas, cestinhos e ovinhos. A garota ao seu lado era simpática e sabia fazer um ursinho de massinha. Após a merenda, todos foram brincar nos tanques de areia. Havia baldinhos e pazinhas à disposição. Juliana pegou um balde vermelho e uma pá rosa. Gostou da combinação. Eram cores de meninas. Ela entrou no tanque de areia contente e satisfeita com a aquisição.
Juliana colocou os pezinhos na areia, sentou-se e começou a cavar com a pazinha. Não demorou muito e sentiu que alguém havia jogado areia em seus olhos e na boca. Ficou assustada e incomodada com os grãos. Começou a chorar. Tentava tirar a sujeira dos olhos e cuspia o que podia. De repente, ela ouviu uma risada e identificou o autor da peça. Era um garoto ruivo, de cabelo encaracolado, sardento e gordinho. Ela nunca havia visto a figura na frente. O garoto saiu correndo, satisfeito com seu ato de maldade.
Juliana procurou pela professora aos prantos. Estava atordoada e suja. Tia Maria viu tudo e mandou que Juliana lavasse as mãos. Depois disse que isso não era nada e recomendou-lhe a entrar na fila junto às outras crianças. Isso era o fim para a menina. Ela pensou: depois de tudo o que aconteceu comigo a professora não vai fazer nada para me defender? E se esse menino me atacar novamente? Quem vai me proteger?Porque a professora não se importou e me tratou como uma criança qualquer?
Pois é! Justo ela: a queridinha do papai, da mamãe, dos avós, tios e primos. Tão amada e agora tão maltratada. Ela não acreditava que havia passado por tanto constrangimento. Estava humilhada e magoada. Sabia que não era uma qualquer e pensou em jamais voltar para aquela fila e muito menos para aquela professora desalmada. Esperta, percebeu o portão da escola entreaberto e rapidamente fugiu por ele. Chorava muito, o peito doía, mas voltar para a escola era o que não queria. Ela queria voltar para a casa e contar tudo ao pai. Tinha certeza que ele bateria naquele menino malvado e mostraria à professora o quanto ela era amada.
Juliana pensou que sabia voltar pra casa. Atravessou a rua correndo com medo dos carros. Andou um quarteirão e não reconheceu mais onde estava. Começou a chorar aos soluços. Virou-se de frente a uma parede, encostou a testa e chorou sem parar. De repente, Juliana viu pela parede uma enorme sombra se aproximar. Assustada, virou-se e viu um homem enorme, sujo e com cara de mau.
Sem dizer nada, ele pegou a criança pela mão e a fez entrar pelo portão de ferro que ficava ao lado do muro. O lugar era estranho, tinha um cheiro forte e era escuro. Juliana tentou resistir, mas o homem a segurou forte e a arrastou. Ela chorou e gritou. O homem começou a ficar irritado, sentou-a em uma poltrona improvisada de pneus e disse:
- Pare de chorar. Não vê que estou tentando resolver um problema?
A menina não conseguiu engolir o choro e tremeu assombrada por causa do lugar escuro e do homem monstruoso. Severo, ele a encarou mais uma vez e somente depois pegou um copo do balcão sujo e foi até pote de água, que ficava em cima de uma cantoneira carunchada. Encheu o copo de água; em seguida, abriu um armário que ficava ao alto. Pegou uma colher e despejou algo branco no copo e a fez beber.
Ela não quis, mas o homem insistiu. Ela bebeu o líquido esquisito. Pensou que era alguma coisa que a faria dormir para sempre e que nunca mais iria ver os pais e os avós. O grandalhão ficou satisfeito e mandou-a esperar quieta. Ele saiu e trancou o enorme portão de ferro. Juliana olhava para o muro e o portão. Eram tão altos. Não havia meio de sair dali. Observou que onde estava só tinha pneus velhos e fedidos, panos sujos e ferramentas esquisitas. Ela sentiu que era seu fim. A cada minuto ficou mais agoniada.
Escutou passos e viu que o portão se abria novamente. Correu e escondeu-se atrás da maior pilha de pneus do lugar. O homem horrível a chamou várias vezes, mas ela não quis sair dali. Ele não era bobo; conhecia cada palmo daquele lugar. E não demorou muito, logo a criança estava em seu colo gritando aos prantos.
- Calma menina! Isso vai acabar logo.
Juliana não parava de pensar para onde aquele monstro a estava levando. Ela gritou e ninguém ouviu. Ela mexeu as pernas, agarrou as roupas do homem, mas era tudo em vão. Ele a levou para fora, a colocou em pé na calçada e recomendou:
- Chega de choro! Logo isso vai acabar.
Juliana estava quase perdendo os sentidos, mas ao longe avistou o pai saindo do carro. Finalmente, ele vinha salvá-la e ia bater naquele homem. Ela se viu livre e correu ao encontro do pai, que disse:
- Filha, o que é isso? Por que você fugiu da escola? Estive por lá e a professora estava procurando você por todos os lados.
A menina não quis saber mais de explicar coisa alguma. Desejou voltar pra casa e pra mãe. Agarrou-se ao pescoço do pai e até o sufocou. Ela viu que o homem estranho não havia fugido. Na verdade, ele se aproximou do pai. Novamente assustada, a menina ficou sem fala. O homem apenas estendeu a mão à seu pai. Ele era um velho conhecido. Eles se cumprimentaram e o pai agradeceu muito.
- Não precisa agradecer camarada. Quando vi a criança chorando, cheguei mais perto dela e li o nome no papel pendurado. Logo, reconheci seu sobrenome e vi que era sua filha. Pensei que, mais cedo ou mais tarde, você passaria aqui em frente procurando a menina.
Juliana estava salva. Porém, não quis saber de agradecer ninguém. Ela entrou no carro e sequer olhou para o rosto do bom homem. Desejou apenas voltar pra casa, ficar junto à mãe, ao seu cachorrinho de pelúcia e aos seus brinquedos.

Sônia Cristina Fonseca Cassoli

Araraquara, 09 agosto de 2011


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cinema Independente Profissional


Entre os dias 16 e 18 de setembro, alunos da Produção Literária participaram do workshop "Cinema Independente Profissional", ministrado por Vivi Amaral, criadora e curadora de programação do festival internacional Cinefantasy. O evento foi oferecido pela Oficina Cultural Lélia Abramo, em Araraquara (SP).

O workshop forneceu preciosas orientações a respeito da realização de projetos independentes de cinema: orientações estas que funcionam muito bem igualmente no ramo da literatura independente, se é que isso existe de maneira tão formal quanto existe o cinema independente. A literatura independente ainda restringe-se aos pequenos círculos de amigos e aparentemente está tão longe do grande mercado editorial quanto os autores brasileiros estão de predominar nas listas dos best-sellers de ficção. Ao contrário disso, o mercado cinematográfico está de olhos, e principalmente de braços, cada vez mais abertos para os produtores de cinema independente.

"A culpa é do mercado, que só publica traduções de livros estrangeiros!", gritam uns. "A culpa é do governo, que não dá educação nem cultura para o povo!", gritam outros. "A culpa é do povo, que é ignorante por opção!", sussurram muitos.

Ao invés de ficarem apontando os possíveis culpados, sugerimos que os escritores usem seus dedos para segurarem seus lápis e canetas com cada vez mais firmeza e para datilografarem (coisinha anacrônica, mas confesso-me fã de uma velha Remington...) ou digitarem com cada vez mais perseverança, porque é disso que a humanidade necessita: histórias. Se não fosse assim, o cinema não seria uma indústria tão forte.

Discussões sobre a linha tênue entre o Cinema e a Literatura foram despertadas na Produção Literária a partir desse workshop. Valeu mesmo, Vivi!

Em tempo:

http://www.cinefantasy.com.br/

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Entre dois mundos


Quando criança Albert sempre gostou de historias de ficção científica. Adorava deitar para dormir e ouvir seu pai, sempre entusiasmado, lhe contar incríveis atos que desafiavam sua mente. Mesmo que fosse difícil fechar os olhos depois de tanto mistério e fantasia, Albert pedia uma nova história todos os dias. Nunca poderia imaginar que as aventuras vividas ali abririam portas que nunca mais poderiam ser fechadas.


Albert com seu jaleco branco e seus óculos tradicionais, anotava com toda facilidade uma fórmula científica no quadro negro a sua frente e nem havia percebido que seu filho Eduardo tinha chegado e estava ali, parado na porta do laboratório.
- O Senhor deveria parar e descansar um pouco! - dizia Eduardo ao olhar com toda admiração para o pai.
Albert apenas olhou de relance e continuou a escrever no quadro negro.
- Estou prestes a concluir uma experiência importante e não tenho tempo para mordomias.
Eduardo, cabisbaixo, começou a mexer em alguns livros que estavam jogados sobre uma escrivaninha.
- Estou falando sério, pai. O senhor tem que dar um tempo e fazer algo de diferente. Já faz um ano que a mãe morreu e parece que você ainda está de luto.
- Já chega – gritou Albert, jogando o giz no chão.
Eduardo deixou o laboratório sem dizer mais nenhuma palavra. Em poucos minutos só se ouviu a porta da casa se fechar e o ronco do motor de seu carro.
O tempo era fundamental e para Albert cada minuto era crucial para a eficácia de sua experiência. Após a morte de sua esposa muitos foram os dias de luto e lágrimas derramadas. Depois de várias pesquisas e horas de sono perdidas, surgia uma chance de fazer contato com ela novamente e para isto ele construiu uma máquina, diferente de todas as outras, em seu laboratório.
Entre muitos fios e luzes que se acendiam e se apagavam, um painel pequeno chamava a atenção, parecido com um monitor de televisão que não possuía tela propriamente dita, emanava pequenos raios de eletricidade entre uma ponta e outra. No momento em que Albert ligou os disjuntores da máquina, os raios dobraram de espessura e uma luz azulada tomou conta do ambiente. Após alguns segundos, os raios se estabilizaram e uma imagem distorcida começou a se formar no painel. Albert retirou os óculos de segurança e com os olhos atentos sorriu diante da figura à sua frente.
- Milena – disse Albert com a voz baixa.
Com toda calma Albert se aproximou da imagem e com uma das mãos tentou tocá-la, neste momento ela sofreu uma pequena distorção, mas ainda assim continuou sendo transmitida.
Os detalhes da imagem ficavam cada vez mais nítidos e o que antes não poderia ser percebido, agora estava claro para os olhos de Albert. Milena usava óculos diferentes dos quais ele se lembrava. Além disso, o olhar de sua esposa aparentava certa preocupação, uma tensão que nunca fez parte de seu feitio. Outra imagem também estava mais nítida na transmissão que se seguia: Milena estava em um local parecido com sua casa, mas que possuía alguns móveis e utensílios domésticos diferentes.
A incerteza e a veracidade daquela transmissão começou a ser questionada na cabeça de Albert, para ele as imagens que estavam sendo transmitidas não eram mais de sua esposa falecida, mas de algo diferente, que ainda não poderia ser explicado por ele.
A dúvida virou inquietude e a inquietude se transformou em ação. Durante a noite, Albert revirou livros, artigos e sites sobre física para buscar uma explicação plausível para o fato que presenciou e que tirou seu sono. Depois de muito pesquisar, enquanto lia um artigo em um site de ciência, ele se deparou com o termo “Universos Paralelos” e aquilo lhe soou muito familiar. Em uma fração de segundos Albert formulou uma teoria para os resultados de sua experiência. E ele sorriu. De repente tudo fazia sentido. E ao olhar para trás e ver aquela máquina estranha, ele se orgulhou, não de si próprio por ter conseguido contato com outro universo, mas de fazer parte de um mundo em que a ciência, mais dia ou menos dia, poderia explicar tudo com seus números e teorias.
Em pé ao lado da máquina, Albert assistiu pacientemente às imagens transmitidas por sua criação e começou a questionar as diferenças, tantos físicas como de comportamento, de Milena. Viu que as duas eram completamente opostas: sua esposa era do tipo de mulher que fazia um homem sorrir ao observar ela sorrindo e que mesmo nos momentos de tensão entre o casal ela conseguia manter-se doce e meiga, podendo conquistar tudo que ela quisesse apenas com seu olhar. Ele chorou ao lembrar que não estava presente nos últimos dias de vida dela. Era viciado em trabalho. Nunca teve tempo para ela.
Eduardo, que tinha entrado sorrateiramente no laboratório e não estava entendo a situação, também chorou ao ver as imagens de sua mãe.
- Você ainda sente muita falta dela, não é?
Assustado Albert se virou para a porta do laboratório.
- Eduardo! – dizia ele enquanto enxugava os olhos que estavam cheios de lágrimas.
- Você ainda não conseguiu se acostumar com a perda dela!
- Não é isso meu filho... – dizia Albert indo até o encontro dele. – Você não esta entendendo, essa é a minha experiência e...
- Pai. Não precisa se explicar. Sei que a morte dela foi prematura e que foi difícil nos primeiros dias, mas está na hora de virar a página do livro e seguir em frente. Não sei nada sobre sua experiência e na verdade nem importo muito com ela, o que sei é que existem muito mais coisas para se viver aqui, neste mundo, no nosso mundo. – dizia Eduardo indo até a escrivaninha e deixando sobre ela um objeto pequeno antes de se virar e ir de encontro à porta do laboratório.
Rapidamente Albert foi até a escrivaninha e, ao pegar o objeto na mão, viu que se trata de uma medalha ganha por seu filho. Olhou novamente para Eduardo e se recordou que não estava presente nos principais momentos da vida dele.
- Filho...
Eduardo antes de ir embora se virou e olhou para o pai, que correndo o abraçou e chorou sobre seus ombros.
– Me desculpe por tudo, nunca tive a intenção...
Abraçado com seu filho, Albert olhou mais uma vez para a máquina que criou, desligou os disjuntores e, antes de sair, apagou as luzes do laboratório.
- Adeus minha querida...


Richard Montezino
Araraquara, 13/08/2011

domingo, 4 de setembro de 2011

Pontuação Cotidiana

Marquei o parágrafo
para o começo de meu dia.
Encontrei a vírgula
para a reflexão de minha tarde.

E minha noite?
Se terei minha noite não sei.
Colocaram antes dela um ponto e vírgula
não sei da continuação do meu dia.

Meu quotidiano é dúvida
É recordar meu dia com dois pontos;
É esperar o amanhã
com um ponto final para o hoje.

Yvone Salete
Araraquara, 4/09/2011

CAMINHAR

Pela rua, pelo mar
Chegar e partir
Idas e vindas num constante bailar.
Sem rumo, sem par,
Até encontrar um novo porvir.
Por dias e noites e até no deserto
Madrugadas a fio sem ninguém por perto.

Só ou acompanhado
Pela vida afora ou no cerrado, por
Verdes montanhas ou chão batido
Sem encontrar um só amigo.

Caminho de ida
Caminho de volta
Como uma roda gigante, te leva pra cima e às vezes pra baixo,
O mesmo caminhar pode te levar ao topo da montanha ou ao
Fundo do mar
Com teu livre arbítrio podes escolher se queres subir ou mergulhar
Na ousadia da chegada ou no desânimo, afundar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ilha Araraquara

Mais duas imagens exclusivas da Expedição Flip 2011: a Produção Literária embarcando na Bete - o barco que levou o pessoal no passeio pela Baía de Paraty, no setor oriental, a partir da praia de São Gonçalo. Vê-se à proa o piloto, nosso amigo Tiago. Abaixo a turma com a Ilha Araraquara ao fundo.

Domingo, 10 de julho de 2011. Assistimos à projeção da Mesa 15 na Tenda do Telão pela manhã e, como não conseguimos nos inscrever mais nas outras atrações da festa literária, resolvemos passear de barco, porque, tal como Macunaíma, não viemos no mundo para sermos pedra.

O passeio deu-se a partir da já citada praia de São Gonçalo. Os membros da expedição tiveram experiências singulares. Eu, por exemplo, tive a oportunidade de receber das mãos de um caiçara uma garrafa pet cheia de camarões sete-barbas vivos. Bom, pra falar a verdade, como o barco estava em movimento, tangenciando sua canoa, ele simplesmente arremessou a garrafinha no convés e eu a agarrei. Sei que nossos colegas Sônia e Victor têm também experiências marcantes dessa viagem para compartilhar, mas vou esperar que eles próprios as postem neste blog. Quanto aos camarões, estes foram fritos e servidos à expedição pela Bete, mãe do piloto do barco que nos conduziu pelo passeio e que toca um restaurante na Ilha do Pelado, a qual também visitamos.

Quanto à Ilha Araraquara, indaguei o piloto sobre a origem de seu nome, mas ele não soube dizer ao certo. Afirmou que foram os antigos que a batizaram, antes mesmo de existirem cartas náuticas. Nossos colegas de expedição brincaram, querendo que eu lhes apontasse as ilhas São Carlos, Matão e Américo Brasiliense. Como existe uma ilha menor, chamada Araraquarinha, deduzi que esta corresponderia ao distrito de Bueno de Andrada (aquele, elogiado em prosa por nosso querido Ignácio de Loyola Brandão).

Brincadeiras à parte, como ninguém soube explicar a origem do nome da ilha, lá vou eu fazer minhas especulações. Aliás, desde o advento do empirismo essa moda de se especular vem sendo por demais desmerecida. Como não tenho nada contra - e tampouco pretendo defender nenhuma tese ou provar nada pra ninguém -, que me perdoem os acadêmicos. Ou não.

Consultando um mapa da região, notei que a Ilha Araraquara está localizada na extremidade oriental da Baía de Paraty. Isso quer dizer que na alvorada os pescadores em seus barcos (no meio da baía, certamente retornando de mais uma madrugada cheia de trabalho) veem o nascer do sol por detrás dela. Ora, se considerarmos que araraquara significa mesmo morada do sol, temos então uma bela explicação para a origem do nome. Aliás, chamá-la assim também poderia servir como orientação no mar, uma vez que, segundo o piloto, não existiam cartas náuticas quando a ilha foi batizada.

Quem não tem um mapa da Baía de Paraty pra conferir, pode visitar o site www.paraty.com.br/ilhas_praias/ilhas.asp. A Ilha Araraquara é a de número 49. Nota importante: neste site o mapa está sem norte (não fique desnorteado!), mas dá pra imaginar uma linha reta entre a ilha e a cidade que corresponde mais ou menos à direção leste-oeste.

No próximo post vou especular sobre a origem do nome da Ilha do Pelado. Esta, sim, dá o que falar!

Um abraço!
Assis